ANA CRISTINA CESAR
“MARFIM
A moça desceu os degraus com o robe monogramado no peito:
L. M. sobre o coração. Vamos iniciar outra Correspondência,
ela propõe. Você já amou alguém verdadeiramente? Os limites do romance realista. Os caminhos do conhecer. A imitação da rosa. As aparências desenganam. Estou desenganada. Não reconheço você, que é tão quieta, nessa história. Liga amanhã outra vez sem falta. Não posso interromper o trabalho agora. Gente falando por todos os lados. Palavra que não mexe mais
no barril de pólvora plantado sobre a torre de marfim.”
“Não está morrendo, doçura
Assim como eu te disse: daqui a dez anos estarei de volta.
Certeza de que um dia nos reencontramos.
Doçura, não está morrendo,
Barca engalanada adernando,
Mas fixa: doçura, não afoga.”
“ATRÁS DOS OLHOS DAS MENINAS SÉRIAS
Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão,
Por injunções muito mais sérias, lustrar pecados
que jamais repousam?”
“Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos,
com os olhos, do silêncio que não é mudez.
E não toma medo desta alta compadecida passional, desta
Crueldade intensa de santa que te toma as duas mãos.
A Teus Pés – 1982
Ana C, escritora, suicidou-se há vinte anos. Conviveu com os poetas marginais dos anos 70.
Publicado por Christiane Reis
“MARFIM
A moça desceu os degraus com o robe monogramado no peito:
L. M. sobre o coração. Vamos iniciar outra Correspondência,
ela propõe. Você já amou alguém verdadeiramente? Os limites do romance realista. Os caminhos do conhecer. A imitação da rosa. As aparências desenganam. Estou desenganada. Não reconheço você, que é tão quieta, nessa história. Liga amanhã outra vez sem falta. Não posso interromper o trabalho agora. Gente falando por todos os lados. Palavra que não mexe mais
no barril de pólvora plantado sobre a torre de marfim.”
“Não está morrendo, doçura
Assim como eu te disse: daqui a dez anos estarei de volta.
Certeza de que um dia nos reencontramos.
Doçura, não está morrendo,
Barca engalanada adernando,
Mas fixa: doçura, não afoga.”
“ATRÁS DOS OLHOS DAS MENINAS SÉRIAS
Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão,
Por injunções muito mais sérias, lustrar pecados
que jamais repousam?”
“Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos,
com os olhos, do silêncio que não é mudez.
E não toma medo desta alta compadecida passional, desta
Crueldade intensa de santa que te toma as duas mãos.
A Teus Pés – 1982
Ana C, escritora, suicidou-se há vinte anos. Conviveu com os poetas marginais dos anos 70.
Publicado por Christiane Reis
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