tirar o sono, enrijecer seus músculos sob o edredom,
aquecer e esfriar, alternadamente, a cama
a procura...
de abrigo?
Deixaria que ela entrasse?
Sim, não teria alternativas.
Eis que chega como um vulto e tem corpo de mulher
daquelas que mordem e acariciam
daquelas que vêm, beijam e vão-se embora
pelo vão da janela entreaberta, com o uivar do vento.
Ficam somente as marcas.
Às vezes ela surge durante o dia,
uma foto ou lembrança,
um poema e pronto: instalou-se
ali, bem dentro do peito
com a vontade do abraço
e o desejo do beijo.
Então, vem o impulso de ligar, escrever.
E não se quer mais a saudade,
pois faz-se necessária a presença física,
o encontro das palavras, dos gostos e salivas.
Precisa-se sentir novamente os cabelos misturados,
os cheiros, os toques,
rever esconderijos.
Mas o ser amado não vem.
Sumiu. Há quanto tempo?
Estava ao lado ainda pouco, ou há meses?
A passagem dos dias se dilui no vácuo deixado.
Hiato.
E agora? Chame com o pensamento, bata tambor,
use sinais de fumaça, sinta um fio de esperança, mas...
no final, vai saber: quem chega sempre é a outra,
doidivanas, a antiga saudade.